sábado, abril 24, 2004

DOLLS


Diretor: Takeshi Kitano
(Japão, 2002, 153 min)



Denso, suave, triste, plasticamente perfeito: Dolls, do diretor japonês Takeshi Kitano, é, sem dúvida, um dos mais belos filmes que já vi. Beleza que se explica não apenas pelas esplêndidas paisagens - o que não é raro nos filmes de Kitano - mas, principalmente, pela apropriação e retratos que o cineasta faz da tradição e cultura japonesas.
Inspirando-se na tradição do Bunraku - o teatro milenar popular japonês, no qual a avó de Kitano trabalhara - aliando-a ao primoroso roteiro, fotografia e direção de arte magníficas, Dolls é a história de três tristes amores, de três casais cujas trajetórias são fatalmente marcadas pelo desencontro, pela infelicidade e pela morte: um jovem sucumbe à ambição de seus pais e renuncia à sua amada noiva para casar-se com a filha de seu (rico) patrão. Desesperada a jovem tenta o suicídio e fracassa, perdendo sua memória e passando a viver num mundo "à parte", perdida em lembranças; um velho dirigente da Yakuza se lembra de seu amor de juventude, o qual ele abandonara por temer “criar vínculos”; e um fã disposto a tudo para compartilhar do amor de sua amada, de seu ídolo.
São histórias que nos falam sobre o amor de um forma poética, lírica e sensível. A interpretação dos atores (Miho Kanno, Hidetoshi Nishijima, Cheko Matsubara entre outros) nos deixa sem palavras. Os figurinos - assinados pelo estilista Yohji Yamamoto - são valorizam ainda mais a fotografia do filme e a trilha-sonora de Joe Isaishi, sensível e perfeitamente sincronizada com o filme, nos leva à emoção apenas ao recordar o filme. Os cenários de Nohihiro Isoda, são igualmente deslumbrantes.



Como todos os verdadeiros artistas, Kitano sabe que a vida não corre como o curso de um rio, mas se consome como a chama de uma vela. Podemos até nos arrepender dos fatos passados, mas podemos somente revivê-los com alegria, estes momentos de profunda felicidade. Sim, somos bonecos, fantoches ou títeres nas habilidosas mãos da vida. Dolls é sensível, único e nos deixa uma grande e bela mensagem: “o amor é como uma porcelana fina e delicada: deixe-o escapar e ele se quebrará em mil pedaços e estará irremediavelmente perdido”.