domingo, março 13, 2005

A Malvada

All About Eve

Margo & Bill

Ontem fomos à Galeria Olido (eu e a Karen para ver o que seria, segundo "Mademoiselle Cunha", "o melhor filme de todos os tempos!: refiro-me ao premiado filme A Malvada (1950, 138 min) dirigido por Joseph L. Mankiewicz, mesmo diretor de Cleópatra (aquele com a Elizabeth Taylor). Enfim, peguei o ônibus rumo ao Centro e quando pus os pés na Rua Direita começou a cair uma chuva torrencial. Em poucas palavras: me senti no meio de um tsunami! Cheguei cambaleante e molhado no local e fui retirar o ingresso para ver a projeção. Realmente era um dos melhores filmes de todos os tempos. Roteiro magnífico, diálogos perfeitos e, um dos pontos mais altos do filme, estrelado por uma das maiores atrizes do cinema americano (para não dizer mundial): ninguém menos do que Bette Davis. Foram duas horas (um pouco mais porque a cópia era ruim e por isso o filme foi interrompido umas 6, 7 ou 8 vezes)em que eu mal conseguia piscar.
O filme conta a trajetória de Eve Harrington (Anne Baxter), uma aspirante a atriz que entra para o círculo de amizades de uma famosa e renomada artista de teatro, Margo Channing (Bette Davis). Inicialmente, Eve é apenas uma grande admiradora e fã de Margo (que a acolhera e a transformara em sua assistente pessoal), mas vai, aos poucos, tomando posse de sua vida.



A primeira aparição de Marlin Monroe no cinema...


Paulatinamente, Eve vai apropriando-se da vida, da personalidade e das amizades de Margo. Ela é um parasita que não apenas vive às custas de seu hospedeiro, mas que - o que é mais genial no filme - não pretende ser como ele, imitá-lo: quer tornar-se ele. Eve pretende não simplesmente ter as mesmas coisas que Margo tem, mas quer ter o que ela tem e da forma como tem. Em outras palavras, Eve Harrington quer ser Margo Channing. E não poupa esforços para atingir seu objetivo: manipula, chantageia, ludibria. Sem culpa, sem remorso.

A Malvada é um filme denso e profundo, podendo até mesmo ser visto com um ensaio sobre a alma humana; melhor dizendo, sobre um aspecto complexo de nossa psique, isto é, baixo, sombrio e, conseqüentemente, desagradável.
Não se pode negar que é grande o incômodo que sentimos ao ver Eve (ou seria Evil e então essa suposta semelhança fonética, uma "coincidência" explicaria muitas coisas sobre o filme e as atitudes da personagem de Anne Baxter) insinuar-se para Bill (George Sanders) ou ao chantegear Karen Richards (Celeste Holm). Censuramos as atitudes de Eve a cada instante como censuramos aquilo que é mal. Cada maldade de Miss Harrington nos força a entrar em contato com um lado "lamacento" de nossa personalidade. É bem verdade que todos nós um dia quisemos ser ou parecer com alguém que admiramos (vejam que até La Cunha quer ser Jeanne Moreau!). Mas quando a admiração ultrapassa limites e de admiradores passamos a usurpadores, cria-se um grave problema.

O filme produz um efeito catártico nos espectadores (as pessoas aplaudiram ao final da projeção!). É como se todos saíssemos de "alma lavada" do cinema. Mas por que alívio, por que perplexidade ? De fato, todos nós temos esse "potencial", o que não quer dizer que o utilizemos.



Bette Davis Eyes...

All about Eve (que como bem disse a Karen, tornou-se A Malvada porque esse título seria uma ótima solução comercial) poderia perfeitamente, em minha opinião, ter sido traduzido por A Maldade. Vale a pena assistir (quer seja em vídeo ou no cinema). Não apenas pelo desempenho brilhante de Bette Davis (simplesmente uma das atrizes de cinema mais fabulosas que já vi em cena!), mas também pelas frases perfaitas, pelo roteiro magnifíco, pelo texto impecável. Todas essas qualidades fazem de A Malvada um filme crucial, vital e imprescindível!