Futuro
(do pretérito)
Ele poderia ser o silêncio de um longo luto, um interstício na caixa de Pandora, o intervalo entre uma obra e outra, o não-dito da vida, as pálpebras que se recolhem constrangidas, a soma do quadrado dos catetos (ou o quadrado da hipotenusa), uma nota entre parênteses, uma frase com reticências. Um morder de lábios de angústia, um advérbio de dúvida.
Poderia ser o branco puro da roupa alvejada, a sombra absoluta da Árvore da Vida, a luz eterna do Paraíso, a grama verdejante de um campo na Primavera, as folhas mortas do Outono, um artigo definido, uma preposição de lugar, uma crase diante de um substantivo masculino, uma prosopopéia.
Poderia ser as águas de Março, a fúria da Vênus ciumenta, um pronome possessivo (meu!), um erro...
Não, não seria um erro. Nem um adjetivo possessivo, já que nem a si mesmo ele pertence. Ele não é (d)aqui, ele é (de)lá. Filho do Longe e da Saudade, ele é o profano mais sagrado. É mão marcada pelo tempo. E pelo trabalho. Mão áspera, mas que, com imensa ternura, molda rústicos vasos de barro. Ele, quando crescer, quer ainda estar vivo. Como se ele pudesse morrer. Sim, ele é memória. E memória pode até se dispersar, se confundir, se turvar. Mas fica, sempre fica.
Et lui, malgré tout et malgré moi même, il reste ici. Il reste encore. Il reste. Toujours...
Poderia ser o branco puro da roupa alvejada, a sombra absoluta da Árvore da Vida, a luz eterna do Paraíso, a grama verdejante de um campo na Primavera, as folhas mortas do Outono, um artigo definido, uma preposição de lugar, uma crase diante de um substantivo masculino, uma prosopopéia.
Poderia ser as águas de Março, a fúria da Vênus ciumenta, um pronome possessivo (meu!), um erro...
Não, não seria um erro. Nem um adjetivo possessivo, já que nem a si mesmo ele pertence. Ele não é (d)aqui, ele é (de)lá. Filho do Longe e da Saudade, ele é o profano mais sagrado. É mão marcada pelo tempo. E pelo trabalho. Mão áspera, mas que, com imensa ternura, molda rústicos vasos de barro. Ele, quando crescer, quer ainda estar vivo. Como se ele pudesse morrer. Sim, ele é memória. E memória pode até se dispersar, se confundir, se turvar. Mas fica, sempre fica.
Et lui, malgré tout et malgré moi même, il reste ici. Il reste encore. Il reste. Toujours...
Cícero Alberto de Andrade Oliveira
Imagem: Novembre (Alphonse de Mucha, 1889)
9 Comments:
As desilusões são tantas que não existe futuro.
Dito. E como.
Ai, amooor... é que tu parece que tá sempre ocupado. Mas eu tenho ido bastante ao cinema e ao teatro nesses últimos fins-de-semana... vc bem que poderia ir comigo:-)
que o pretérito fique por onde merece estar.
que pensemos o futuro quanto deve ser. que sejamos o presente, apesar de todo tédio.
Como eu já lhe dissera, muito bom, primaz.
Me lembrei de um verso ... "Palavras não enxugam o tempo..."
Oi!!!
Você é um vaso (rústico) mas um vaso. Esse vaso já foi pó, pó de outro vaso que foi. Você carrega em si um pouco do que outros foram. Esse vaso pode receber uma pintura e voltar ao forno para ficar mais belo e mais forte. Com certeza também virará pó, mas por um bom tempo será admirado pelo que pôde mudar. Quer um pincel?
Amigo, você não imagina o quanto eu precisava falar com você por esses dias. Bjs,
Oi!!!
Meu amigo você não sabe como esse tal de impulso é algo difícil de encontrar. E em tempos de HIV Cata-Puta é algo muito arriscado.
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