domingo, outubro 08, 2006

Lá (ou o não)


(ou o não)


Era, nisso, muito humana. E fechou as mãos (frias, como sempre), apertando os longos dedos contra as palmas grossas (calejadas pelas tardes), para ver se sua angústia desaparecia. Fechou os olhos (tristes, como nunca), e fê-lo com tanta força, que pontos luminosos brilharam na escuridão de suas pálpebras (oprimidas, como agora). Viu-se (ou via-se?) pequena, incapaz, impotente. E com uma dor tão grande, tão maior que sua consciência (mas sem ruído). Alma em espera, tornara-se (indubitavelmente) uma barulhenta ausência de si mesma. Não era, mas estava (incessantemente): nem contava mais o tempo, apesar de ainda olhar o céu. E , os mesmos pontos luminosos que via quando oprimia seus olhos. Talvez tivesse um céu dentro de si. Mudo, cheio de pequenos furos e orifícios que desembocavam num infinito (silencioso e desconhecido). Achou que, cerrando as pálpebras, enxergaria a si, que conseguiria ver sua própria angústia: que a escuridão a iluminaria. Enganou-se. A força com que escurecera o mundo fez transbordar um rio que, até então, ignorava. E não havia represa que o contivesse.

Foto: Soif Publique (1933) - Manuel Alvarez Bravo

7 Comments:

At domingo, 08 outubro, 2006, Anonymous Anônimo said...

Maravilhoso! Amei...

 
At quarta-feira, 11 outubro, 2006, Blogger Rosely Zenker said...

Bom, hoje não vou dar um fora: vi que a referência é sobre a foto hihihihihi
Este texto está muito bom, mas parece que saiu de um livro. Há algum livro do qual este livro saiu? Ou este livro está esperando para ser escrito?
Sabe o que eu acho? Que este livro está louco para participar do Projeto Nascente, mesmo que seja um livro de contos.
Continue a escrever que nós continuamos a deliciar...
Beijão...

 
At quarta-feira, 11 outubro, 2006, Blogger Rosely Zenker said...

ops: Há algum livro do qual este TRECHO saiu??

 
At quinta-feira, 12 outubro, 2006, Blogger Laine said...

bonito texto. bonito blog. gostei de "cair" aqui. um abraço

 
At quinta-feira, 12 outubro, 2006, Blogger clara said...

querido Cícero, que bom os seus passeios pelos meus bloguitos. Adoro seus textos e traduções, sempre passo por aqui, mas às vezes é difícil comentar assim de improviso, quanto maior a complexidade, mais difícil. Mas também sei que qualquer comentário é sempre uma felicidade.

Você é a pessoa do texto de baixo? eu também sou.

 
At segunda-feira, 16 outubro, 2006, Anonymous Anônimo said...

"""Achou que, cerrando as pálpebras, enxergaria a si, que conseguiria ver sua própria angústia: que a escuridão a iluminaria. Enganou-se.""""
Estive por tempos cerrando as minhas, talvez possuído pela mesma angústia!
Abri os olhos e ainda meio cego, insisti em fixar meus olhos em algo....

 
At segunda-feira, 30 outubro, 2006, Blogger clara said...

oi Cícero, como você encontrou essa biografia? Que maravilha, tem fotografias coloridas da Moreau jovem? quero fazer uma pintura, um óleo grande (estou fazendo um também pra Catherine Deneuve e outro pra Fanny Ardant). Quero usar uma imagem dela também mais velha, já encontrei algumas boas, mas queria que ficasse só como detalhe... Estou fazendo algumas alterações sutis que marquem uma passagem minha por ali, é tão estimulante isso. Tem um ótimo site de imagens e entrevistas da Deneuve, não sei como não existe uma coisa semelhante pra Moreau. Um absurdo! Você leu o texto do Cortázar, "amamos tanto a Glenda"? Pensava num grupo de amantes da Moreau parecido com esse... hahaha, acho que eles matam a atriz no final... muito bom.


um beijo

(acho que a Karen não gostou da idéia, ela parece tão mal-humorada...)

 

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