quinta-feira, novembro 02, 2006

Uma ruidosa ausência

Uma ruidosa ausência
À une chère abs(ta)nte

Pensava que passar, talvez, fosse um bom sinônimo para viver. Passara por várias coisas em sua vida, mas não se lembrava de ter vivido nada. Perguntava-se se era possível viver (verbo defectivo, presente contínuo, já que não se vive no passado nem no futuro, tempos que só existiam em relação àquele Outro, absoluto): Carpe diem quam minimum credula postero. Tempo arbitrário o presente: impossível viver no absoluto. Dera-se conta de que o sentido construía-se nos intervalos, no entre
(via-se melhor nas entrelinhas). E haveria, sempre, uma distância: era ela quem assegurava (e engendrava) o sentido (sentimento). Mas, viver não tinha sentido (a vida era um grande anacoluto). Aquela distância (que não poderia jamais ser alcançada) a angustiava. O presente morria no momento em que nascia e nada poderia, jamais, ser dito in praesentia. Nada poderia ser dito diante da morte. E ao pensar nisso, fez silêncio. E pensou que ele, o silêncio, também não era possível, pois morria ao ser enunciado. Nada podia ser feito, porque o nada não existia. Viver tornara-se um constante (e progressivo) acúmulo de passados.
Imagem: Grimaces à Kotzebue - Jean-Philippe Charbonnier (1955)

6 Comments:

At quinta-feira, 02 novembro, 2006, Blogger Laine said...

oi,cicero.
que bom que gostou daquelas fotinhas lá no meu blog. é uma carta que escrevi, mas - não sei porque motivo - não mandei. obrigada pela "visita" simpática.
um abraço

 
At sábado, 04 novembro, 2006, Anonymous Anônimo said...

Então, Cícero, é algo que nunca estará pronto.

 
At terça-feira, 07 novembro, 2006, Anonymous Anônimo said...

Passados esses que insistimos em recordar, esquecer .... acordei com uma vontade de ser passado!

 
At quarta-feira, 08 novembro, 2006, Anonymous Anônimo said...

Você é fantástico. Tenho sempre que te dizer isso.
O presente se torna passado dali um segundo a frente. No presente imagino que o passado teve no fundo algo que valeu a pena, daí nem precisa tentar fazer algo mais pro futuro. Não vale a pena.
Beijos. Precisamos nos ver. Saudades!

 
At sábado, 11 novembro, 2006, Anonymous Anônimo said...

Sr. Alberto, eu sei o sobrenome dela, eu só tomei mão de um artifício para não divulgá-lo no meu blog, entende? Vai que alguém entra e vê e conta pra ela... ai!

 
At terça-feira, 21 novembro, 2006, Blogger Eu canto no chuveiro said...

Eu não me libertei, acho... não sei se isso é bom ou ruim...

 

Postar um comentário

<< Home