Uma ruidosa ausência
Uma ruidosa ausência
À une chère abs(ta)nte
Pensava que passar, talvez, fosse um bom sinônimo para viver. Passara por várias coisas em sua vida, mas não se lembrava de ter vivido nada. Perguntava-se se era possível viver (verbo defectivo, presente contínuo, já que não se vive no passado nem no futuro, tempos que só existiam em relação àquele Outro, absoluto): Carpe diem quam minimum credula postero. Tempo arbitrário o presente: impossível viver no absoluto. Dera-se conta de que o sentido construía-se nos intervalos, no entre
(via-se melhor nas entrelinhas). E haveria, sempre, uma distância: era ela quem assegurava (e engendrava) o sentido (sentimento). Mas, viver não tinha sentido (a vida era um grande anacoluto). Aquela distância (que não poderia jamais ser alcançada) a angustiava. O presente morria no momento em que nascia e nada poderia, jamais, ser dito in praesentia. Nada poderia ser dito diante da morte. E ao pensar nisso, fez silêncio. E pensou que ele, o silêncio, também não era possível, pois morria ao ser enunciado. Nada podia ser feito, porque o nada não existia. Viver tornara-se um constante (e progressivo) acúmulo de passados.
Imagem: Grimaces à Kotzebue - Jean-Philippe Charbonnier (1955)
6 Comments:
oi,cicero.
que bom que gostou daquelas fotinhas lá no meu blog. é uma carta que escrevi, mas - não sei porque motivo - não mandei. obrigada pela "visita" simpática.
um abraço
Então, Cícero, é algo que nunca estará pronto.
Passados esses que insistimos em recordar, esquecer .... acordei com uma vontade de ser passado!
Você é fantástico. Tenho sempre que te dizer isso.
O presente se torna passado dali um segundo a frente. No presente imagino que o passado teve no fundo algo que valeu a pena, daí nem precisa tentar fazer algo mais pro futuro. Não vale a pena.
Beijos. Precisamos nos ver. Saudades!
Sr. Alberto, eu sei o sobrenome dela, eu só tomei mão de um artifício para não divulgá-lo no meu blog, entende? Vai que alguém entra e vê e conta pra ela... ai!
Eu não me libertei, acho... não sei se isso é bom ou ruim...
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