Do vagido à palavra: veredas
Do vagido à palavra: veredas
Olhava-se no espelho diariamente e sentia uma dor sem mesura, inenunciável. Silenciosa, vinda do escuro e da tristeza, condenada a ser vácuo, a ser invisível. Perdia-se na tentativa de dizer algo que não existia e, quando lhe perguntavam o que sentia, percebia que ia explodir, porque não conseguia achar o que dizer e via que nem criando palavras seria capaz tocar aquilo. Era algo que lhe escapava, uma lacuna, algo que, de tão irrepresentável, podia nem mesmo existir - apesar da presença, lancinante: “une trop bruyante solitude”. Era como falar de algo que falta, tentar fazer o outro experimentar a própria fome ou fazê-lo sentir o próprio ódio – ambos ausências, o que apenas agravava mais o desespero de achar que nunca (jamais) conseguiria explicar. E não conseguiria mesmo, já que lhe restava apenas aprender a conviver com esse não-existir. Era um imperfeito, um “gerúndio” – com toda a angústia que o processo pode acarretar. Queria poder passar do grito ao sentido, mas a vida mostra sempre que nem tudo (malgré moi) é significado. Conviver com o inominável nem era possível. E prosseguir numa época em que se anunciava a materialização do fim da vida estava sendo duro. Vida rija, rígida, como o clima e certas vegetações. Como os caminhos de certas estradas nas quais andamos e nem sabemos por quê. Parce qu’il le faut, tout simplement. Sois pas bête, mon enfant. Mange ta soupe et apprend ta leçon: la vie, mon cher, n’est qu’une suite de rebondissements. Et il faut rebondir: n’importe où et n’importe comment. Mais il le faut.
Imagem: The Tempest (1916) - John William Waterhouse
8 Comments:
que vergonha, você é tão elegante.
insuffisance c'est le martyr du monde
Olá!
O início me lembrou mt uma poesia da Sylvia Plath! Muito.
___
Não lembro o nome da batata eheh Sei que começa com "J".
see u!
Detonou! - já que eu arraso, rs
Este comentário foi removido pelo autor.
"Que venha essa nova mulher de dentro de mim...Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das onças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher.
Livre, livre, livre para o amor....quero ser assim, quero ser assim
Senhora das minhas vontades e dona de mim" (Simone)
hahaha desculpa, eu não resisti, foi mais forte que eu.
Este comentário foi removido pelo autor.
A propos de Jean Luc Lagarce, il y a une intéressante publication sur la manière dont il a été traduit :
http://www.solitairesintempestifs.com/fr/ouvrage314.html
yugen.
do vagido à vagina!
e aí, quando vai voltar a postar?
vamo trabalhar, meu bem
bisappellemoi!
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