domingo, maio 09, 2010

Desmedida

Desmedida



Não fomos feitos para viver verdades. Atualmente pelo menos, preferimos os paradigmas. Insistimos na existência de múltiplas perspectivas, afirmamos que tudo depende do ponto de vista - eles mesmos tão distintos quanto os seres humanos. E já que a pluralidade é o próprio do humano e a diferença, seu ponto de partida, toda "unanimidade" ou "unilateralidade" seria burra, restritiva, empobrecedora. Tudo o que é reto é também estreito e parcial; tudo o que é pluriforme e multiangular, exprime melhor a complexidade do que é ser humano. Afinal de contas, para que se fixar ao "Uno" se ser "Pluri" - sem rótulos ou etiquetas, fronteiras ou limites - é de longe mais interessante? Por que o preto e branco, se flagramos já o colorido da vida?

Não ignoramos que viver essa pluralidade é um risco, até mesmo um tormento. Pois nada é sólido, dá sustentação, apoio. É como se tivéssemos que aprender a andar em terreno movediço: divertido no começo, mas logo se percebe que a coluna não endireita, que as pernas não se sustêm e que se está sempre no mesmo lugar - colorido, mas estático. Eis então, que surge uma nostalgia do preto e branco. E quando se volta ao monocromático, o mesmo sentimento de tormento retorna - se é que ele nos abandonou.

Fala-se muito em "meio termo", caminho do meio, que seria o ideal, é bem verdade. Mas eu, honestamente, não sei o que poderia estar no intervalo da alegria e da tristeza, do movimento e da estaticidade, do singular e do plural, do simples e do complexo, do amor e do ódio.

Gostaria muito de habitar nesse interstício, nesse vão, nesse entre. Mas não me parece possível. Somos condenados a viver entre extremos.

Foto: Bill Brandt (Ear on the beach, 1957).


1 Comments:

At domingo, 09 maio, 2010, Anonymous Ana Amelia said...

O teu fim pareceu dúbio. No meio. Eu já adoro o ambos os dois - sabendo que isso é a dificuldade de escolher.

 

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