sábado, fevereiro 19, 2005

Digam "Whisky"!




Quinta-feira fui ao cinema ver Whisky, filme dos diretores uruguaios Pablo Stoll e Juan Pablo Rebella. Havia recebido boas indicações (a maior parte das pessoas que o haviam visto haviam elogiado bastante), mas quis comprovar para crer. Havíamos combinado eu, o Rogério, a Patrícia e a Karen de assisti-lo no Top Cine, o único lugar onde parece que este filme ainda está passando. Chego ao cinema em cima da hora; ninguém havia chegado, mas como a sessão já iria começar, resolvo entrar e, logo na entrada, um homem que parecia ser o responsável pela projeção adverte a todos aqueles que estavam na fila: "Senhores, ar condicionado da sala quebrou. A sala está muito quente e aqueles que quiserem devolver os ingressos terão o seu dinheiro de volta". A maior parte dos presentes fez cara feia e deu meia volta, rumo ao guichê. Eu resolvi ficar e assistir. "A sala era ampla e como certamente haveria poucas pessoas, o ar circularia melhor, pensei. E foi justamente o que aconteceu.

Whisky (95 min, 2003) é um filme supreendente: sensível, lírico e dramático, o filme narra a história de Jacobo, um proprietário de uma velha e sucateada fábrica de meias no Uruguai que, ao saber da vinda de seu irmão caçula (Herman) para a cerimônia de colocação da lápide no túmulo da mãe, pede à gerente da fábrica (Marta) que finja ser sua esposa durante a permanência dele em sua casa - tarefa que ela aceita prontamente, dado seu profundo interesse por ele (algo de que somente Jacobo não desconfia).


"Digam Whisky!"

O velho solteirão é uma pessoa inflexível e totalmente apegada à rotina; a vinda de seu irmão mais novo tumultua completamente sua vida. Herman mora no Brasil e também é dono de uma fábrica de meias (numa cidade do Rio Grande do Sul), porém mais moderna e melhor sucedida. Possui uma família e é aparentemente feliz em seu casamento (o que confirmaria o fracasso de Jacobo, caso o irmão soubesse que ele não havia se casado) .
A delicadeza com que Stoll e Rebella conduzem a trajetória das três personagens é primorosa. Os silêncios são perfeitamente explorados pelos diretores uruguaios, que contam com a atuação magistral de Mirella Pascual (Marta), Andés Pazos (Jacobo) e Jorge Bollani (Herman).



Os silêncios...

É difícil não se incomodar com a total ausência de comunicação entre os três. A gravidade de Jacobo o torna frio e distante, o que contrasta com a fagueirice de Herman. Jacobo é amargo e ressentido; Herman parece não ter nenhum remorso por não ter ido ao enterro de sua mãe. Entre essa "crise familiar" insere-se Marta, uma mulher sensível, doce em certa medida, mas que não tendo seus sentimentos correspondidos, torna-se triste também. Os diretores poderiam enveredar para um clichê e torná-la "a ponte de união" entre os dois irmãos; mas não é o que fazem. A personagem de Mirella Pascual cresce a cada frame e, como bem lembra Neusa Barbosa, ela "não tinha tanto espaço na primeira versão do roteiro - que foi traduzido em inglês e venceu um prêmio em Sundance, cuja verba serviu para custear metade do orçamento".
Com ou sem ar condicionado, Whisky é um filme lindo. Vale a pena conferir...
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