quarta-feira, agosto 30, 2006

Porque o silêncio...

Porque o silêncio...



Não penso mais. Perdi a capacidade de refletir. Ou, talvez, tenha sido apenas isso a única coisa que fiz em toda a minha vida: refletir (como um espelho) as opiniões alheias. Não que isso seja necessariamente ruim (ser original nunca foi uma angústia. Aprendemos a falar repetindo o que os outros dizem). Não, não, sem auto-punição, auto-flagelação. Um instante, uma percepção apenas. Sim, há penas. E grandes. Porque existiam inten(s)ões. Não há como prosseguir, apesar de tudo. E de mim mesmo. "Il faut continuer encore. Il faut continuer encore plus. Il faut continuer toujours. Não tem sentido, mas é preciso continuar". É, eu sei. O pesar de tudo. O papel do crítico. O não-ser crítico. A falta de espaço (e incentivo?) para pensar. Vida acadêmica, vida intelectual. Três. Que viraram dois por incapacidade de ser tão plural. A Ética e a sobrevivência. A escolha, sempre errada. A psicanálise. As artes plásticas. Auxiliar, sempre. O um quarto que bate à porta. A francesa. A italiana. A inglesa. A luso-brasileira. Estudar para prova. Estudar para trabalho. Por amor. Pôr amor. Amor entre aspas, dentro de outras aspas, aspas infinitas. Infinitas como as sombras. "Seria a noite a soma de todas as sombras?" Palavra anônima, palavra plural. Mas o ser é singular, um. Indi(e)vid(e)uó. Ler um texto para a aula. Ler um texto para a prova. Ler, (co)ler. (co)Ler co(r)endo. Apre(e)nder. Aprender sem apreender. (co)Ler um livro por amor. Le livre à(venir). Avenir. Devenir. "A literatura aspira ao silêncio e está condenada a desaparecer". Mas "dès que quelque chose est dit/quelque chose d'autre a besoin d'être dit". Aspira-se ao silêncio, mas a busca pelo silêncio nos leva a uma palavra infinita. Et moi, je reste toujours dans cette trop bruyante solitude. Estranho ter que responder à tantas questões, já que as respostas não existem e as questões nunca acabam. Elas também são (tão) infinitas.