sábado, maio 06, 2006

Vigília


Édesanyám (My Mother) József Egry (1929)


“(...) Quando eu crescer espero ainda estar vivo (...).
Sérgio Ricardo Soares

Tentava desesperadamente precisar as palavras. (Es)colhê-las mui cuidadosamente para que seu dizer fosse preciso. Ou ainda mais obtuso. Buscava subjugá-las, tal bestas violentas: mister exprimirem exatamente o que se queria significar.

Esforço inútil. Agia como se significar fosse realmente possível. Tolice. Na luz, elas sempre desapareciam: eram como as sombras, que quanto mais perto do sol, menos perceptíveis ficam.

Cristalinas e muito opacas, feitas para transitar entre o claro e o escuro. São transparentes. Não porque exibem o que se pensa ou o que se sente, mas porque rara(mente) delas se apercebem.

Momentos há em que, bem empregadas, dizem tudo. Em outros, sua ausência tudo expõe. Tudo ou nada.

Parece ser de sua natureza dizer sempre e apenas “a parte”. Uma parte. Inexatamente, como são os sentimentos e os pensamentos. E os seres humanos.

Grande desconforto dar-se conta de que tudo sempre escapa ao nosso controle. Por mais que se denunciem as obviedades da vida, logo se entende que nada há de evidente. Nem pessoas, nem coisas, nem nada. Nem o nada. O olhar (ou seria o desejo?) está, apenas, (re/des)coberto de sentido. Ou de não-sentido. De um sentido que não é, de fato, sentido.

É preciso estar atento para (se) tentar (se) compreender. Mesmo sabendo que, certamente, se fracassará. Ainda que nada seja (ou esteja) certo. Porque tudo é sempre e ao mesmo tempo.

Queria que esse mundo tão pequeno não fosse assim tão grande. Pelo menos você estaria mais perto.


Cícero Alberto de Andrade Oliveira