domingo, outubro 08, 2006

Lá (ou o não)


(ou o não)


Era, nisso, muito humana. E fechou as mãos (frias, como sempre), apertando os longos dedos contra as palmas grossas (calejadas pelas tardes), para ver se sua angústia desaparecia. Fechou os olhos (tristes, como nunca), e fê-lo com tanta força, que pontos luminosos brilharam na escuridão de suas pálpebras (oprimidas, como agora). Viu-se (ou via-se?) pequena, incapaz, impotente. E com uma dor tão grande, tão maior que sua consciência (mas sem ruído). Alma em espera, tornara-se (indubitavelmente) uma barulhenta ausência de si mesma. Não era, mas estava (incessantemente): nem contava mais o tempo, apesar de ainda olhar o céu. E , os mesmos pontos luminosos que via quando oprimia seus olhos. Talvez tivesse um céu dentro de si. Mudo, cheio de pequenos furos e orifícios que desembocavam num infinito (silencioso e desconhecido). Achou que, cerrando as pálpebras, enxergaria a si, que conseguiria ver sua própria angústia: que a escuridão a iluminaria. Enganou-se. A força com que escurecera o mundo fez transbordar um rio que, até então, ignorava. E não havia represa que o contivesse.

Foto: Soif Publique (1933) - Manuel Alvarez Bravo