sábado, março 04, 2006

Estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse...



Estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse.

Esperei sexta, aguardei sábado, desejei que domingo chegasse mais rápido para que a chuva com ele viesse. Esperei uma segunda, uma terceira, uma quarta vez. Os dias acumulavam-se, amontoados no calendário fixo na parede. Calendário fixo que tentava, em vão, precisar o tempo; mas, o tempo nunca espera.

Esperava a chuva, como sempre esperei, como sempre hei de esperar. Esperei, até que ela chegou e ficou por pouco tempo. Tempo que se extinguiu lentamente, tal as gotas de uma torneira mal fechada.

E então, eu tentava conter a tempestade que se espalhava pelo campo árido de minha casa, tentava conter a enxurrada, tentava apaziguar a chuva pela qual tanto havia esperado, pela qual sempre espero, pela qual sempre esperarei. Eu estava em minha casa. E esperava que a chuva chegasse. Ela veio. Veio, passou quatro dias ao meu lado e foi embora. Perto e tão longe de mim, ao mesmo tempo.
De fato, achava eu que esperava a chuva, mas, certamente, era você quem eu esperava. Tinha esperança de que você viesse com o vento do Nordeste, com a chuva - que viria irrigar os campos de minha casa. Acabou minha espera. Não espero mais que a chuva venha. Não espero mais que ela venha e inunde minhas plantações. Chegou o Outono. Les feuilles mortes se ramassent à la pelle, les souvenirs et les regrets aussi. Época de colheita.


Les feuilles mortes
Jacques Prévert et Joseph Kosma

Oh ! je voudrais tant que tu te souviennes
Des jours heureux où nous étions amis...
En ce temps-là la vie était plus belle,
Et le soleil plus brûlant qu'aujourd'hui...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle.
Tu vois, je n'ai pas oublié...
Les feuilles mortes se ramassent à la pelle,
Les souvenirs et les regrets aussi
Et le vent du nord les emporte
Dans la nuit froide de l'oubli.
Tu vois, je n'ai pas oublié
La chanson que tu me chantais...

C'est une chanson qui nous ressemble.
Toi, tu m'aimais et je t'aimais
Et nous vivions tous deux ensemble,
Toi qui m'aimais, moi qui t'aimais.
Mais la vie sépare ceux qui s'aiment,
Tout doucement, sans faire de bruit...
Et la mer efface sur le sable
Les pas des amants désunis.

Yves Montand