sábado, setembro 30, 2006

Rien à faire... (pour que l'amour me quitte).

Rien à faire...
(
pour que l'amour me quitte).

Disse que ia embora. Precisava recomeçar já que descobrira que a terra a que tanto amava não mais existia: ela nada era senão uma "pura ficção". Poucos eram os laços que ainda o atavam àquele lugar, laços que iam, paulatinamente, se desfazendo. Já perdera sua família, seus amigos; não queria perder a si próprio (tinha apenas a si). Precisava buscar outros nortes, outros ares, estabilidade, solidão. Estando virgem em outro lugar encontraria outro tipo de solidão, uma solidão com horizonte nascente, já que a que ele tinha ali, tornara-se poente.

Oras, não precisaria ser para sempre: nada o é. Um dia, poderia mudar de novo. Mas não voltar. Sabia que não o faria (e se não voltasse é porque decidira ficar).

Essa decisão - difícil, dolorosa, penosa - trouxera-lhe, ironicamente, a tão-almejada paz. O tempo passava rápido e ainda lhe faltava tanto... Morada, descendência , um paraíso. Descendência, sim. A vida toda pensara nela. Certas coisas a gente tem qualquer tempo da vida para fazer; filho, não. Pode até ter, mas não convém. "Estava", dizia ele, "em seu limite".

***
Aqui. Desejando, de todo coração, estar lá, como sempre. E , já tão longe, ficaria ainda mais distante. Pensara em voltar a acreditar em Deus só para dizer-lhe "Deus te abençoe". "Deus te proteja". Pensou, então, que jamais seria livre, pois vivia numa prisão e seus carcereiros (o tempo e o espaço) jamais o deixariam sair.

Daria-lhe uma casa, um jardim, um filho. Mas, sequer, conseguia fugir das amarras do tempo: o futuro do pretérito (um dia, talvez) aconteceria.

Foto: La petite fille aux feuilles mortes (Édouard Boubat, 1947)